Por vezes não nos apercebemos da pobreza real existente no nosso país e, em particular, nas nossas cidades. Muitos são aqueles que saiem das suas aldeias em direcção a Lisboa ou Porto, na procura de melhores condições de vida, e ao chegarem ao seu destino, o que encontram é uma vida bem mais difícil, e acabam por viver pior do que nas suas origens.Mas também há os casos dos que já nasceram nas grandes cidades, ouvieram para cá cedo com os pais, e toda a vida aqui viveram. Hoje são idosos, muitas vezes abandonados pela família, viúvos, a residirem em prédios antigos com escadarias que na maioria dos casos os impedem de sair, e vivem em miséria. E esta manhã deparei-me com um caso destes. No metro, entrou uma senhora de uma certa idade, apoiada numa canadiana e a pedir aos muitos que se encontravam na carruagem uma ajuda ou algo para comer. Eu estava a ler e de fones, mas consegui ouvir o que ela pedia (sem sucesso). Típica velhota portuguesa, de cinzento (mais um típico caso de viuvez) e de carrapito grisalho. Quando se dirigiu a mim, cantou a mesma ladainha, e eu confirmei se era para comer. Ela disse que sim. Nestes casos nunca digo que não (só se não puder), e evito dar dinheiro (embora reconheça que por vezes faz falta). Então dei-lhe o meu iogurte líquido de Aloe Vera, daqueles grandes da Emmi. Ela pareceu surpreendida. Agradeceu muito. Confirmou se era iogurte, e ainda perguntou se me ía fazer falta, ao que respondi para ela não se preocupar. Guardou na sua bolsa de cintura e seguiu. Entretanto, todos os que nos rodeavam, a quem ela já tinha pedido, começaram a mexer-se, como que se sentindo mal, de consciência pesada. Pode ter sido coincidência, mas era a ideia que dava. Um senhor à minha frente, que também tinha um saco (não sei se com comida), ainda o abriu e deu mesmo a sensação de estar indeciso entre tirar ou não algo lá de dentro e dar à velhota. Se esse era o caso, optou por não o fazer e ela seguiu caminho. Não sei se as pessoas têm vergonha. Por vezes simplesmente não podem dar. Mas este episódio retrata bem a pobreza dos velhotes nas grandes cidades e as pequenas pensões que recebem. Por isso, sempre que possam, ajudem.
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